Eu vivo dizendo que sou azarada, mas acho que não é exatamente isso. Na verdade, meu campo gravitacional para aleatoriedades que é maior do que o de um ser humano médio. As coisas chegam perto de mim e param de fazer sentido, as pessoas também, o tempo, tudo, tudo para de fazer sentido se chega perto demais.
Vocês duvidam, mas eu desafio: quem já teve um homem quase morrendo em um chuveiro explosivo? Quem já teve os cabos do ônibus elétrico desligados em plena sexta pré-carnaval tendo um vôo pro Recife? Quem foi passear em Israel e acabou no meio da guerra? Quem foi acusado de roubar agendas por uma louca invasora de salas? Sou Grande Líder Não Democrática da aleatoriedade, é minha sina.
A sina é tal que no dia 01/09/2013 eu desembarquei em Amsterdam, peguei um trem, desci do trem e fui andando feliz, contente e serelepe pela cidade com minha mala e minha companhia responsável pelo mapa (por motivos mais que óbvios). Vejam, holandês não é uma língua muito fácil e cidades com ruas de nomes quase iguais só muda uma letra em uma língua que soa tipo um alemão piorado são piores ainda. Ou seja, nos perdemos. Não foi muito, algo como duas ou três quadras a mais, podia não ter feito diferença se não fosse meu enorme e deformado campo gravitacional para a aleatoriedade.
Enquanto nós duas sujas, suadas, com a cara amassada e a roupa possivelmente suja de jantar do avião pós voo de 12 horas andávamos pela rua um cara em uma loja começou a chamar. Vejam, eu digo não para muito poucas coisas, talvez isso explique porque acumulo tantas histórias ridículas, mas isso não vem ao caso, experiências são importantes, eu poderia inserir aqui aquela cena da Jessa gritando “I’m going to look 50 when I’m 30!”. Um homem em uma loja de cosméticos chamou, quem diria não?
Pausa para o contexto: existe o Mar Morto, no Mar Morto existe lama e minerais e uns negócios ótimos para a pele dos quais as pessoas fazem cosméticos. Em Israel (mas dá pra achar na França e nos Estados Unidos) tem uma marca amor chamada Ahava, no resto do mundo é mais fácil achar uma marca que faz a mesma coisa pelo triplo do preço chamada Premier (fim do momento blogueira de beleza) . O homem da loja de cosméticos vendia Premier, o que resultou que nos primeiros cinco minutos eu disse “não vamos comprar, tem outra marca que faz o mesmo e custa muito menos”.
Mas o vendedor era um homem com uma missão e, apesar da minha leve cara de ceticismo, ele pegou a mão da Aninha (que a essa altura vocês já sabem é a personagem coadjuvante de maior frequência nesse blog, depois de um ou outro ex) e começou a passar um esfoliante. Vamos, de novo, parar um minuto e nos perguntar o seguinte: há algo de sexual em um esfoliante? Algum de vocês tem fetiche com esfoliante? Alguém efetivamente sente tesão por passar esfoliante em alguém? Se esse for o caso, por favor, manifeste-se na caixa de comentários (pode ser como anônimo) ou no meu email, prometo sigilo, privacidade e seu amor de volta em três dias, mas fiquei realmente curiosa.
Porque o senhor vendedor começou a passar esfoliante na mão dela como quem lambuza uma atriz pornô com calda de chocolate. Ao contrário da revista Nova, não sou adepta do sexo comestível, mas já estive rindo do xvideos de madrugada, inclusive já vi um pornô com pterodátilos. Muito sexualmente vendedor passa esfoliante e diz, em um tom digno de George Michael em Careless Whisper, your hands will be soft, like a baby’s butt *insira aqui um olhar levemente psicopata, levemente maníaco, meu deus esse homem diz baby’s butt fazendo carinha sexy”.
É claro que não termina aí. Ele segue com movimentos sexuais e olhares sugestivos e diz “imagine that, all over your body” em uma entonação como aaaaall-over-your-boooody” e uma leve reboladinha a lá George Michael. Eu devo estar com uma cara de choque, foi todo aquele vinho barato do avião certeza, é o vinho barato e a brisa da cidade, estou alucinando, eu juro que nunca mais vou beber vinho barato no avião. Não, mentira, nunca juraria uma coisa dessas.
Enquanto eu ainda estou decidindo se o vinho barato mais o cheiro de maconha estão me dando alucinações, ele se inclina no ouvido da Aninha e diz “that’s also good for relations”. É isso, meus amigos, um maníaco por mãos, um tarado do esfoliante, é Amsterdam afinal, mas eu esperava uma coisa mais masmorra medieval, não armário de cosméticos.
Dez minutos na cidade. Dez minutos. Eu não tinha conseguido chegar ao hostel. Mas encontrei um quirofílico (precisei procurar essa palavra o google, ao faze-lo descobri que existe o fetiche por amarrar pedras no pênis, precisei compartilhar a informação). A única coisa que eu achei mais rápido que o maníaco sexual foi o cheiro de maconha.
Falando em maconha, pode ser que um meio brownie induza alguém a ficar repetindo “aaaaal over your boooody” e “like a baby’s butt” enquanto rebola até o chão. Pode ser.