Eu estou lendo Scott Pilgrim. E desde o início eu brinco dizendo que sou um pouco Ramona. Pelo armário cheio de chás e o gato, mas por não contar coisas óbvias pra quem devia e pelas horas que ela vira pro Scott Pilgrim e diz “pra sair COMIGO? tem que ser bem burro mesmo.”
Mas na hora em que ela se sente insegura e corta todo o cabelo que vinha deixando crescer eu não sabia se ria ou se chorava. Nos últimos 10 anos meu cabelo teve todas as variações de curto, médio, comprido, muito curto, com mechas rosas, pontas rosas, pontas roxas, todo rosa, loiro natural, com luzes, platinado, ruivo. E ele nunca, NUNCA, mudou por acaso.
É estúpido e é clichê, mas eu mudo meu cabelo cada vez que sinto que vou entrar em um abismo. Quando eu sai de casa, quando comecei a trabalhar, quando decidi acabar o namoro, quando decidi começar algo com alguém que eu sabia que não devia, quando acabou.
Em uma cena em Girls, o Adam (namoradinho da personagem da Lena Dunham) pergunta por que ela fez tantas tatuagens e ela responde que engordou muito no colégio e as tatuagens eram uma forma artificial de dizer que ela ainda tinha controle sobre o corpo.
Eu mudo o cabelo porque meu desespero de não fazer nada precisa de uma saída. Estúpida e artificial como é. As pessoas me perguntam se vou ficar muito tempo ruiva e eu quero responder “depende se minha vida anda ou não”.
É estúpido, mas é ridiculamente reconfortante saber que você pode refletir a inconstância de dentro na aparência. Que você pode gritar para o mundo “eu não sei me comprometer, olha só, eu mudo a cor de cabelo a cada seis meses! Eu sou tão ruim em lidar com as coisas que vou lá e desconto no cabelo!”
Eu sou um pouco Ramona Flowers. Eu pinto o cabelo quando me sinto insegura, eu não respondo coisas que devia responder. Eu me faço de distante porque é a distância que eu queria manter. Mysterious and aloof just to avoid getting hurt.